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Teoria versus prática

É mais valorizado o conhecimento teórico ou a experiência? Executar algo, falhar e aprender com esses erros. 
Quando concluí a minha formação académica e entrei no mercado de trabalho fui prontamente acusado de não ter experiência, de ter muita teoria, mas pouca prática. Na altura pareceu-me desapropriada essa acusação, pois pensava que o conhecimento que possuía era o suficiente para suplantar a ausência de experiência. O tempo mostrou-me que estava errado.  

Fui tentando colmatar essa lacuna, uma de muitas, e ganhar experiência ou, como alguns lhe chamam, “esperteza de rua”, errando e vendo outros a errar e tentando não repetir esses mesmos erros. 
Dei por mim a sentir-me profissionalmente e pessoalmente, pela primeira vez, mais completo. Mas deixem-me ser mais claro, eu estava coxo e não sabia, tinha uma perna bem mais curta do que a outra e só depois de ambas estarem com dimensões aproximadas é que me apercebi o quanto isso me impedia de “correr” e evoluir. Arrastei-me profissionalmente e pessoalmente nos primeiros anos, sem ter noção do mesmo e posso até dizer até que estava em negação. Cometi erros desnecessários que me custaram horas de trabalho, de vida e até saúde física e mental. 

Portanto, posso dizer que me tornei apto a reconhecer um coxo, pois fui um durante muito tempo e também porque trabalhei com diversos profissionais com anos de experiência capazes de executar o que lhes era pedido de uma forma até bastante correta, mas sem qualquer capacidade de inovar, imaginar, sair da caixa e ver o panorama de outra perspetiva. Para ser honesto aprendi a respeitar imenso a maioria desses profissionais, fosse pela sua capacidade e experiência, fosse pela humildade ou pelo simples facto de executarem o serviço. Por outras palavras, coxos da perna contrária à minha. Isto permitiu-me deixar de ser coxo e obtive deles o máximo conhecimento possível. Observei, interagi e ajudei tudo para conseguir sorver o máximo de experiência possível.

 

Entretanto sempre interagi com a outra face da moeda, o profissional com a teoria toda mas sem experiência profissional, que procurava aprender com quem tinha experiência. A minha desilusão começou quando conheci uma nova geração de empresários, bem formados, com uma cultura geral acima da média, capazes de citar diversos autores e estudiosos, consumidores ávidos de livros e informação, aliás a maioria altamente influenciada por grandes empresários das gerações anteriores, o tal 0.1% dos 99.9% dos empreendedores. Tentam seguir os passos destes visionários, mas com um pequeno problema, nem coxos são. Falta-lhes quase por completo uma das pernas, incapacidade de aprender com a experiência dos outros, maioritariamente por não acharem necessárias essas valências, incapazes de executar o plano suportado por todo o conhecimento e teoria simplesmente por não terem qualquer experiência ou capacidade de execução. Incapazes ainda de falar com um trabalhador de igual para igual na mesma “linguagem”, mas na realidade sem real noção de que o estão a fazer. Expliquem-me como é possível liderar uma equipa, uma empresa ou um país com esta ausência de noção das suas falhas e de capacidade de liderança?